A manipulação pelos
mass media Tento sempre aperceber-me das intenções das pessoas que me rodeiam e me tentam convencer de alguma coisa. Fico sempre de pé atrás: Ninguém oferece nada a ninguém… O marketing é uma ferramenta do diabo. A manipulação pelos mass média baseia-se na estratégia central de reduzir o mais possível a liberdade de acção do público, obliterando a sua capacidade crítica de discutir ou de resistir ao que lhe é proposto. As estratégias usadas são objecto de muita investigação e planeadas ao pormenor para afectar emocional e cognitivamente as relações que os indivíduos estabelecem entre si e com os objectos que os rodeiam. De um lado encontramos aqueles que querem convencer ou explorar, do outro o público que por vezes não tem consciência que de está a ser manipulado. A manipulação dos afectos Segundo Philippe Breton, a manipulação dos afectos faz-se com o recurso aos sentimentos ou através do efeito de fusão. No primeiro caso, a técnica é criar a ilusão de que o emissor da mensagem está na própria mensagem ou é nela representado “aceita-se facilmente que se o homem é sedutor, o que ele diz é convincente”. Ainda segundo o mesmo autor, a manipulação dos afectos é realizada através de várias estratégias - a sedução demagógica, a sedução pelo estilo, manipular pela clareza, a esteticização da mensagem, o medo e a autoridade, a manipulação das crianças e o amálgama afectivo: A sedução demagógica – Esta técnica é utilizada amiúde na política, sendo que o “protótipo do sedutor é o demagogo”, ao dirigir-se a “vários auditórios particulares, fará crer a cada um que pensa como ele”. Este sedutor “não afirma a sua própria opinião, infiltra-se na opinião alheia” A sedução pelo estilo – Neste caso, “a manipulação começa quando o bem falar substitui o argumento em si (…)”. Manipular pela clareza – A clareza anda a par com a brevidade da mensagem, a qual convence pela sua simplicidade e pela ausência de esforço em aceitá-la. A esteticização da mensagem – Assiste-se à esteticização da mensagem. Um exemplo é a propaganda Nazi, que se baseava numa esteticização das massas, que acabavam por fazer parte da própria mensagem (Breton, 2001). O medo e a autoridade – Recorre-se ao medo, por vezes disfarçado sob a forma de autoridade, para fazer aceitar a todo custo uma opinião ou provocar um comportamento, sem discussão (Breton, 2001). O amálgama afectivo – Este mecanismo “consiste em ir procurar no espírito do auditório (…) um elemento pré-existente simpático, agradável, desejável e até apetecível (…) ou causador de espanto e de medo, e colar de seguida esse elemento à mensagem, que fica assim aumentada”. Esta técnica é usada na publicidade, aumentando a mensagem em relação à sua dimensão informativa. Outra categoria de técnicas manipulatórias, incluídas na manipulação dos afectos é o que se chama o efeito de fusão, com ele pretende-se a aniquilação de toda e qualquer referência no processo de comunicação. Consideram-se as seguintes técnicas, segundo Breton (2001): A repetição – “Esta técnica cria a impressão de que o que foi dito e repetido, já foi argumentado em algum momento anterior”. A repetição é útil na formação de reflexos condicionados, preciosos tanto na publicidade como na propaganda política. A hipnose e a sincronização – É uma técnica mais metódica cujo fito é convencer e fazer mudar comportamentos, através da forma como a mensagem é transmitida e não tanto pelo seu conteúdo. Por exemplo, o manipulador sincroniza a respiração com a pessoa a manipular, pode também proceder à imitação do tom e da entoação da voz, dos gestos corporais e, por fim, num nível superior de comunicação, o seu vocabulário e os seus conceitos. Esta empatia criada leva à manipulação, desde que a pessoa manipulada não se aperceba das técnicas usadas (Breton, 2001). O papel do tacto – Há estudos que comprovam que quando um vendedor toca o possível comprador, este tem mais probabilidades de efectuar a respectiva compra. Assim, é interessante reflectir “sobre se a multiplicação dos estímulos sexuais na publicidade e na comunicação não funcionam como uma dimensão alargada do tacto (…) podemos ser “tocados” por essas imagens e experimentar, por esse facto, sem saber porquê, uma grande simpatia pelo produto a que elas estão associadas”.
Breton, Philippe, A palavra manipulada, Lisboa, Ed. Caminho, 2001