Algumas noções de lógica
Então, repara que podemos ter: · Argumentos válidos, com premissas verdadeiras e conclusão verdadeira; · Argumentos válidos, com premissas falsas e conclusão falsa; · Argumentos válidos, com premissas falsas e conclusão verdadeira; · Argumentos inválidos, com premissas verdadeiras e conclusão verdadeira; · Argumentos inválidos, com premissas verdadeiras e conclusão falsa; · Argumentos inválidos, com premissas falsas e conclusão falsa; e · Argumentos inválidos, com premissas falsas e conclusão verdadeira. Mas não podemos ter: · Argumentos válidos, com premissas verdadeiras e conclusão falsa. Como podes determinar se um argumento dedutivo é válido? Podes seguir esta regra: Mesmo que as premissas do argumento não sejam verdadeiras, imagina que são verdadeiras. Consegues imaginar alguma circunstância em que, considerando as premissas verdadeiras, a conclusão é falsa? Se sim, então o argumento não é válido. Se não, então o argumento é válido. Lembra-te: num argumento válido, se as premissas forem verdadeiras, a conclusão não pode ser falsa. Argumentos sólidos e argumentos bons Em filosofia não é suficiente termos argumentos válidos, pois, como viste, podemos ter argumentos válidos com conclusão falsa (se pelo menos uma das premissas for falsa). Em filosofia pretendemos chegar a conclusões verdadeiras. Por isso, precisamos de argumentos sólidos. · Um argumento sólido é um argumento válido com premissas verdadeiras. Um argumento sólido não pode ter conclusão falsa, pois, por definição, é válido e tem premissas verdadeiras; ora, a validade exclui a possibilidade de se ter premissas verdadeiras e conclusão falsa. O seguinte argumento é válido, mas não é sólido: Todos os minhotos são alentejanos. Todos os bracarenses são minhotos. Este argumento não é sólido, porque a primeira premissa é falsa (os minhotos não são alentejanos). E é porque tem uma premissa falsa que a conclusão é falsa, apesar de o argumento ser válido. O seguinte argumento é sólido (é válido e tem premissas verdadeiras): Todos os minhotos são portugueses. Todos os bracarenses são minhotos. Também podemos ter argumentos sólidos deste tipo: Sócrates era grego. (É claro que me estou a referir ao Sócrates, filósofo grego e mestre de Platão, e não ao Sócrates, candidato a secretário geral do Partido Socialista. Por isso, a premissa e a conclusão são verdadeiras.) Este argumento é sólido, porque tem premissa verdadeira e é impossível que, sendo a premissa verdadeira, a conclusão seja falsa. É sólido, mas não é um bom argumento, porque a conclusão se limita a repetir a premissa. · Um argumento bom (ou forte) é um argumento válido persuasivo (persuasivo, do ponto de vista racional). Fica agora claro por que é que o argumento "Sócrates era grego; logo, Sócrates era grego", apesar de sólido, não é um bom argumento: a razão que apresentamos a favor da conclusão não é mais plausível do que a conclusão e, por isso, o argumento não é persuasivo. Talvez recorras a argumentos deste tipo, isto é, argumentos que não são bons (apesar de sólidos), mais vezes do que imaginas. Com certeza, já viveste situações semelhantes a esta: — Pai, preciso de um aumento da "mesada". — Porquê? — Porque sim. O que temos aqui? O seguinte argumento: Preciso de um aumento da "mesada". Logo, preciso de um aumento da "mesada". Afinal, querias justificar o aumento da "mesada" (conclusão) e não conseguiste dar nenhuma razão plausível para esse aumento. Limitaste-te a dizer "Porque sim", ou seja, "Preciso de um aumento da 'mesada', porque preciso de um aumento da 'mesada'". Como vês, trata-se de um argumento muito mau, pois com um argumento deste tipo não consegues persuadir ninguém. Mas não penses que só os argumentos em que a conclusão repete a premissa é que são maus. Um argumento é mau (ou fraco) se as premissas não forem mais plausíveis do que a conclusão. É o que acontece com o seguinte argumento: Se a vida não faz sentido, então Deus não existe. Mas Deus existe. Este argumento é válido, mas não é um bom argumento, porque as premissas não são menos discutíveis do que a conclusão. Para que um argumento seja bom (ou forte), as premissas têm de ser mais plausíveis do que a conclusão, como acontece no seguinte exemplo: Se não se aumentarem os níveis de exigência de estudo e de trabalho dos alunos no ensino básico, então os alunos continuarão a enfrentar dificuldades quando chegarem ao ensino secundário. Ora, não se aumentaram os níveis de exigência de estudo e de trabalho dos alunos no ensino básico. Logo, os alunos continuarão a enfrentar dificuldades quando chegarem ao ensino secundário. Este argumento pode ser considerado bom (ou forte), porque, além de ser válido, tem premissas menos discutíveis do que a conclusão. As noções de lógica que acabei de apresentar são elementares, é certo, mas, se as dominares, ajudar-te-ão a fazer um melhor trabalho na disciplina de Filosofia e, porventura, noutras. Nota Agradeço a Desidério Murcho as sugestões e correcções feitas à 1.ª versão deste trabalho. Bibliografia António Aníbal Padrão, Escola Secundária de Alberto Sampaio, Braga (Trabalho realizado no âmbito da Acção de Formação "Lógica e Filosofia nos Programas de 10.º e 11.º Anos", leccionada por Desidério Murcho (CEF-SPF) e organizada pelo Centro de Formação da Associação de Escolas Braga/Sul.) In, http://www.esec-alberto-sampaio.rcts.pt/filosofia/logica_padrao.htm
Logo, todos os bracarenses são alentejanos.
Logo, todos os bracarenses são portugueses.
Logo, Sócrates era grego.
Logo, a vida faz sentido.
Sociedade Portuguesa de Filosofia
Aprendizagens Essenciais de Filosofia (10.º Ano)
Aprendizagens Essenciais de Filosofia (11.º Ano)
Aprendizagens Essenciais de Psicologia B (12.º Ano)
Perfil dos Alunos à Saída (Escolaridade Obrigatória)
Escola Secundária Domingos Rebelo